
Ação Ecumênica do Paraíso
EDIFICANDO O REINO DOS CÉUS
Congresso Nacional
A Expressão “Saber das Coisas”
“Pesquisando a causa dos sofrimentos da humanidade, descobri que eles se originam na ignorância.”
O Pão N. de C. Dia, p. 148
Como é profunda e sutil a expressão “saber das coisas¹”! Talvez não exista algo equivalente em outro idioma. Como sua interpretação é muito difícil, vou tentar esclarecê-la da melhor maneira possível. Esmiuçando seu significado, pode-se dizer que ela tem o sentido de experimentar, aprofundar e captar a essência das coisas que existem no mundo e, depois, expressá-la de alguma forma. Por exemplo, diante de um problema, procura-se descobrir o ponto vital avaliando as possíveis consequências de determinada ação.
Ao contrário disso, aquele que não tem percepção nem sabedoria costuma argumentar, de forma imatura e infantil, que age inconsequentemente sem se incomodar com a censura e o desprezo dos demais. Normalmente, é tachado de imaturo, mimado ou grosseiro. Existe, igualmente, a palavra “erudita” para designar quem possui vasto conhecimento no campo cultural.
É muito grande o número de pessoas que não possuem sabedoria, como os políticos da atualidade, que fazem alarde sobre questões insignificantes, sem se darem conta de que são recriminados pelos mais esclarecidos. Portanto, seu comportamento nada mais é do que a demonstração da própria pequenez. Pessoas assim são prisioneiras da visão shojo² e estão constantemente empenhadas na autopromoção. É devido às ações dessas criaturas medíocres que a eficiência e a credibilidade do Congresso Nacional são sempre prejudicadas. Em outras palavras, são ignorantes.
Certamente, é pela existência do grande número de políticos dessa natureza que se gastam longas horas e não se chega a conclusões e resoluções mais rapidamente nas discussões. Ao contrário, se a maioria fosse sábia, ela chegaria ao consenso rapidamente. No entanto, o problema é que pessoas sábias detestam se expor e evitam entrar em conflito com pessoas ignorantes, e acabam se retraindo, mantendo-se em silêncio. Esses ignorantes se aproveitam da situação e passam a se exibir cada vez mais. O mundo é curioso, pois quem age assim torna-se conhecido, e a fama aumenta sua probabilidade de ser eleito por ocasião das eleições.
Sendo assim, os ignorantes passam a representar a maioria, e os sábios, a minoria. Como se tem visto nos últimos tempos, o fato de se passar noites em claro discutindo um problema sem encontrar uma solução, demonstra claramente isso. Entretanto, no final, o que se verifica mesmo é que a opinião daqueles que sabem o que dizem é que acaba sendo aceita.
No mundo político, as pessoas que mais se destacam são aquelas que menos se expõem, e naturalmente são reconhecidas e valorizadas. Nesse sentido, creio que o atual primeiro-ministro do Japão, Shigeru Yoshida [1878– 1967], é a pessoa mais sábia entre os políticos da atualidade. Isso não se limita ao mundo político: em todos os setores da sociedade, aqueles que são considerados competentes, em sua maioria, são pessoas sensatas, o que talvez seja natural.
Acima, referi-me ao aspecto intangível; a seguir, desejo falar sobre o aspecto material. Para facilitar a compreensão, acho melhor basear-me na Arte, já que muitos dos sábios são grandes personalidades dotadas de extraordinário senso estético. Quem eu gostaria de tomar como exemplo em primeiro lugar é o príncipe Shotoku³, detentor de vasto conhecimento sobre a cultura budista, principalmente no aspecto artístico, o que dispensa comentários. A evidência disso está no Templo Horyuji⁴ e nas demais obras deixadas por ele, que conservam o esplendor da sua magnificência. Podemos dizer que a famosa “Constituição de Dezessete Artigos”, de sua autoria, é o alicerce das leis japonesas.
A seguir, vamos citar Yoshimassa Ashikaga⁵, que, embora tenha sido alvo de críticas em outros setores, prestou relevante serviço à Arte. Além de construir o Templo Guinkakuji⁶, foi apreciador da arte chinesa, tendo colecionado as melhores obras artísticas das eras Song [960–1279] e Yuan [1200–1368]. Além disso, estimulou a arte japonesa, fazendo produzir obras de alta qualidade, conhecidas como higashiyama gyobutsu⁷, as quais, ainda hoje, deleitam a visão dos que as apreciam. Logo, seu legado é realmente digno de louvor. (...)
(...)
Apresentei, em linhas gerais, algumas das pessoas de sabedoria mais representativas. São pessoas cultas no mais alto grau e nem é preciso dizer o quanto seu legado contribuiu para alimentar a alma, desenvolver o bom gosto e enobrecer os sentimentos das gerações posteriores.
Naturalmente, todos sabem que as invenções, as descobertas e a evolução do conhecimento contribuíram para a cultura da humanidade, mas creio que também seja necessário reavaliar o quanto o legado das pessoas de sabedoria contribuiu para a cultura ao longo do tempo.
Meishu-Sama, Col. Alicerce do Paraíso, vol. 3. Em 15 de agosto de 1950.
¹“Saber das coisas”(Titulo anterior): em japonês, mono wo shiru. Expressão idiomática utilizada para indicar um conhecimento vasto aliado à experiência prática.
² Visão shojo: visão micro, prende-se ao particular em detrimento do todo. É uma visão estreita, limitada, restrita, individual, exclusiva e de curto prazo.
³ Príncipe Shotoku: Shotoku Taishi (7 de fevereiro de 574 – 8 de abril de 622), foi um regente semi-lendário e político influente do período Asuka (538–710), no Japão.
⁴Templo Horiyuji: templo budista de madeira mais antigo do mundo com 1300 anos, construído pelo Príncipe Shotoku no ano 607, considerado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO em 1993.
⁵ Yoshimassa Ashikaga: Yoshimassa (20 de janeiro de 1435 – 27 de janeiro de 1490) foi um xógum que governou entre 1449 e 1473 durante o período Muromachi (1336–1573) do Japão.
⁶ Templo Guinkakuji: conhecido como Pavilhão Prateado, é um templo zen, considerado patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, construído a partir de 1482 por Yoshimassa Ashikaga.
⁷ Higashiyama gyobutsu: conjunto de obras de arte colecionadas durante o período do xogunato Ashikaga composto por inúmeros tesouros nacionais japoneses.
Excelência. O Ecumênico